sexta-feira, 3 de junho de 2011

TEXTO 4: REVOLUÇÃO RUSSA, 1917


  A Rússia no início do século passado era um grande império. Seus limites iam da Europa oriental, espraiando-se pela Ásia central, até as fronteiras do Império Chinês, no extremo Oriente. Seu imperador, o czar Nicolau II, exercia o poder de forma absolutista, centralizando o poder em suas mãos. Entretanto, esse imenso império, com povos de culturas e nacionalidades diferentes, vivia uma profunda contradição. Ao mesmo tempo em que era uma economia industrializada, os milhões de camponeses viviam uma realidade medieval, sob tradições feudais, em condições de extrema pobreza, assim como os operários. Por outro lado, no topo da sociedade russa, gozando as riquezas do império, uma elite composta por senhores rurais (donos de terras), o alto clero da Igreja Ortodoxa, a aristocracia imperial, a alta burguesia e os militares de alta patente.


Eram constantes as revoltas nos campos e as greves nas cidades. Mas, o czar, Nicolau II, mostrava-se insensível ao sofrimento do povo. Existiam vários grupos políticos com projetos para transformar essa ordem social. Entre anarquista e socialistas havia os sociais democratas que defendiam a revolução. Seguidores das idéias Karl Marx, acreditavam que o socialismo viria de forma gradual. Primeiro, o capitalismo democrático superaria as tradições e acabaria com os privilégios das elites. Depois, o capitalismo seria superado pelo socialismo numa revolução feita pelos trabalhadores.
Vladimir Lênin
Os sociais democratas (Partido Operário Social Democrata Russo) estavam divididos em bolcheviques (maioria) e mencheviques (minoria). Com o desenrolar dos acontecimentos os bolcheviques, sendo Vladimir Lênin seu principal líder, passaram a defender a radicalização da revolução. Entretanto, em 1905 surgem os sovietes (conselho em russo). Essas organizações reuniam trabalhadores de diversos seguimentos com o objetivo de manter a unidade de seus membros para além das greves e independente da opção partidária de cada um. Com seus lideres eleitos por seus colegas, os sovietes se espalharam  por toda a Rússia, em fábricas e quartéis.  
Para piorar a situação a Rússia entra na Primeira Guerra em 1914. Aliada da Inglaterra e da França(Tríplice Entente), contra os Impérios alemão, austríaco e turco (Tríplice Aliança), esse conflito agravou a crise na produção agrícola e industrial, gerando fome e desemprego. As derrotas na frente de batalha para os alemães eram constantes.
O massacre do  Domingo Sangrento
Portanto, a grave crise social somada aos prejuízos decorrentes da guerra mergulhou o czarismo em uma crise profunda. O massacre de trabalhadores, que matou 92 pessoas, em frente ao Palácio de Inverno, que foram pedir pão e paz ao czar, conhecido como Domingo Sangrento, revelava a inabilidade do czar frente à crise que se estendia em protestos, em escala crescente, nos campos e nas cidades.
 A convocação de um parlamento (Duma) pelo czar, eleito pela população, a fim de elaborar uma Constituição para a Rússia, de nada adiantou. Em pouco tempo, Nicolau II, demonstrou sua face autoritária suspendo os trabalhos da Duma.
Nicolau II
No início de 1917 soldados desertavam da frente de batalha, greves se espalhavam, a fome e o empobrecimento da população tornaram a situação insustentável. Em 23 de fevereiro o czar foi deposto por grupos liberais. O poder foi transferido para a Duma. Caia a monarquia na Rússia.
Com a queda do czar a Rússia mergulhou no caos político. Um governo provisório, chefiado por um príncipe latifundiário, Georgy Lvov, tinha a forte oposição dos bolcheviques e do poderoso soviete de Petrogrado, que defendiam a radicalização do movimento nas palavras de Lênin: “Todo poder aos sovietes”. Sem resolver os principias anseios do povo russo por pão, paz e terra, os bolcheviques, apoiados pelos sovietes e pelos soldados, tomaram o Palácio de Inverno e depuseram o governo provisório. Era outubro de 1917. No poder os bolcheviques atenderam as reivindicações do povo russo. Reconheceram o direito dos camponeses à terra, dos operários nas fábricas e propuseram um armistício com a Alemanha assinando o Tratado de Brest-Litovsk, pondo fim ao estado de guerra entre os dois países.
Exército Vermelho
É claro que os problemas não se resolveram de uma hora para outra, a guerra pela revolução ainda estava por vir. Em 1918 estoura a guerra civil. De um lado os grupos sociais alijados do poder, pela Revolução de Outubro, formando o Exército Branco, com o apoio dos países capitalistas (ingleses, franceses, japoneses, norte-americanos e até alemães). Do outro, defendendo a revolução o Exército Vermelho, comandado por Leon Trotsky. As conseqüências da guerra foram dramáticas para o povo russo e levaram o governo de Lênin a adotar o comunismo de guerra, proibindo qualquer empreendimento privado, confiscando a produção agrícola dos camponeses, por destacamentos armados (destacamento de ferro) e instituindo o igualitarismo salarial. Medidas duras e impopulares.
Soviete de Petrogrado
Vitorioso na guerra civil, mas, governando um país arrasado, os bolcheviques, agora Partido Comunista,  esvaziaram o poder dos sovietes e passaram a controlar os sindicatos, sufocando e eliminando qualquer resistência e reivindicações, inclusive aquelas ocorridas na Fortaleza de Kronstadt, que exigiam a democratização da revolução. O governo reprimiu os revoltosos em combates que levaram a milhares de mortos.
Com o fim da guerra civil o governo de Lênin deu início à reconstrução do país. A NEP (Nova Política Econômica) tinha como objetivo estimular a agricultura e combater a fome.  A NEP estabeleceu algumas regras do capitalismo, como a pequena propriedade privada e o retorno, de forma limitada, a economia de mercado. Para Lênin “era necessário dar um passo atrás para dar dois passos à frente”, para que o socialismo pudesse avançar. Com a NEP, as condições sócio-econômico da Rússia melhoraram muito, mas, obteve pouco sucesso na recuperação da indústria. Com o objetivo de institucionalizar a revolução em 1922 foi elaborada uma nova Constituição, criando a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) que reunia as diversas Repúblicas do antigo império russo.

Trotsky e Stalin
Com a morte de Lênin em 1924 tem inicio a disputa pela sucessão do governo russo dentro do Partido Comunista, expondo duas propostas. De um lado, o secretário geral do partido Joseph Stalin, que defendia a tese da “construção do socialismo em um só país”, segundo essa proposta os esforços da revolução deveriam concentrar-se na realização do socialismo na Rússia; enquanto isso Trotsky, criador do Exército Vermelho, um  ex-menchevique com idéias próprias e intelectual brilhante, defendia a “revolução internacional”, priorizando a internacionalização do socialismo. Ao final venceu o grupo de Stalin. Iniciava-se o período de implementação do socialismo de modelo soviético, caracterizado por um notável desenvolvimento econômico, mas, marcado por um terrível expurgo dentro do partido que prendeu e matou milhares de pessoas. Esse período ficou conhecido como Grande Terror.
Stalin empreendeu a coletivização do campo e a industrialização acelerada. Eram os primeiros passos do Primeiro Plano Qüinqüenal, em 1929. As terras coletivizadas poderiam se tornar cooperativas agrícolas (Kolkhozes) ou fazendas estatais (sovkhozes) onde 98% dos camponeses trabalhavam em fins de 1935. No caso da industrialização não foram poupados sacrifícios. O financiamento da indústria veio dos impostos pagos pelos camponeses e, principalmente, da exportação de produtos agrícolas, mesmo com a carência de alimentos, obtendo assim recursos para a importação de máquinas, equipamentos e tecnologia.
bandeira da URSS
Portanto, o socialismo que se implantou na Rússia, em 1917, ficou conhecido como modelo soviético. Seu sucesso, em grande parte é atribuído a Stalin, por ter melhorado o nível de vida da população russa e feito da URSS uma potência econômica, política e militar. Contudo, podemos resumir esse sucesso a partir de três fatores: o terror de Estado, que eliminou as oposições; o desenvolvimento econômico, que fortaleceu a indústria; e a ascensão de milhões de pessoas favorecidas pelas políticas estatais.

Bibliografia.
História (Ronaldo Vindas, Sheila de C. Faria, Jorge Ferreira e Regina dos Santos – editora Saraiva)

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